02 março 2012

Felicidade clandestina

Resolvi viajar, peguei o primeiro ônibus da rodoviária com destino incerto. Só saberei quando chegar. Sento-me no fundo. Sinto um alivio ao perceber que o ônibus segue vazio.  Pela janela vejo o cerrado brasiliense, árvores retorcidas e resistentes. Olho o relógio e são exatamente 11:11 am. O sol está forte e decido abrir a janela. Uma leve brisa sopra em meu rosto e nesse exato momento descubro que estou feliz. Uma felicidade de estabilidade emocional e alívio. Sinto uma sensação curiosa, é como se antes eu estivesse em um lugar lotado de pessoas e me afastasse e olhasse todas elas de longe. Meu olhar continua em um ponto fixo, apesar de ter me dado conta que não viajo mais sozinha. Um rapaz acaba de sentar-se ao meu lado. Sem ousar encará-lo consigo captar algumas informações, alto e esguio. Me alarmo para o fato de ter muitas poltronas vazias. Porque esse estranho sentou-se logo ao meu lado? Retiro um livro da bolsa, porém não consigo esquecer a misteriosa companhia. Ao que parece, ele conituava absorto em seus pensamentos. Então, em alguma parte da viagem ele se levanta e sai. Sem uma única palavra. Nesse momento me atento ao fato de que não pude dar face a esse alguém, sim, não olhei-o nem um momento sequer. E pior, não senti curiosidade em fazê-lo. Depois de algum tempo que o rapaz-sem-face se foi, tomo coragem e observo a poltrona que outrora lhe serviu. Levo um susto. Uma moleskine! Como pôde tê-la esquecido? É de tamanho médio, vermelha e um pouco surrada. Não tenho coragem de abri-la imediatamente, mas quando finalmente abro, me deparo com um desenho. Levo algum tempo para identificar. Não, não pode ser! Sou eu, sim... Estou de perfil, bom.. o livro, está tudo aqui! Esse tempo todo... Bom, nesse momento sorrio baixinho. E percebo o quão serendipite era o rapaz-sem-face.

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